Tristes pela ausência do Coronel Minga, mas empolgados pela expectativa de descobrir uma nova fronteira no surf mundial, nossos aventureiros acordaram cedo naquela segunda feira ensolarada.
Às 5 da manhã nosso amigo Rodolfo chegou para nos buscar na pousada e nos transportar até a fronteira, na cidade de Peñas Blancas. Com a adrenalina a mil e totalmente curiosos com os fatos que iriam viver por ali, atravessamos a fronteira no meio de uma multidão de sacoleiros, pedintes, autoridades e caminhões. A única coisa que não vimos ali foram turistas.
Sendo assim, obviamente nos transformamos imediatamente no centro da atenção, sendo cercados por todos os lados por pessoas que queriam de alguma maneira compartir um pouco de nossos escassos dólares.
Para surpresa e decepção geral, o carro que deveria estar nos esperando não estava lá, e a missão passou a ser encontrar um veiculo que nos levasse até Popoyo. A única coisa que sabíamos é que ficava a 3 horas dali rumo ao norte.
Depois de muita busca e momentos de tensão, catalisados pela pobreza da população que nos rodeava, decidimos contratar os serviços do taxista Carlos, um cara muito legal e o único que conhecia o caminho até nosso destino final.
Embarcamos em seu táxi e após algumas horas de estrada de terra e areia, atravessando rios e poças de lama, chegamos à pousada La Tica, localizada em frente ao pico. O visual alucinante e a imagem de algumas ondas quebrando perfeitas compensaram as quase 7 horas de viagem, e finalmente lá pela 1 da tarde estávamos pela primeira vez surfando as ondas em um novo país.
Esquerdas e direitas perfeitas quebravam sobre a rasa bancada de pedras com um bom tamanho, garantindo adrenalina e diversão aos cerca de 20 surfistas presentes no outside. Quem pensa que na Nicarágua não tem crowd está enganado, mas mesmo assim as séries constantes saciavam os desejos de todos aqueles viajantes que só tinham uma coisa para fazer ali naquele "fim de mundo": surfar.
Saímos do mar para botar alguma coisa na barriga e em questão de minutos já estávamos na água outra vez, surfando o que todos consideraram com unanimidade as melhores ondas da trip.
O final de tarde laranja, roxo e lilás completava o cenário de um dia inesquecível e inigualável, sem palavras para descrever a magnitude e beleza da mãe natureza.
Após uma noite de descanso em que acordávamos constantemente com o barulho das chuvas e trovoadas, acordamos bem cedinho para constatar que o mar havia subido ainda mais.
Séries de 2 metros quebravam lisas e perfeitas para alegria geral, o que nos levou a fazer 3 quedas com pequenos intervalos para alimentação e hidratação. Tínhamos que aproveitar ao máximo aquele presente de Deus pois às 5 da tarde Carlos estaria esperando para nos levar de volta à fronteira.
Totalmente exaustos e felizes, entramos no táxi sem saber o que nos aguardava nos próximos instantes. Sabíamos que com a forte chuva da madrugada o nível dos rios tinha subido e seria bem difícil atravessar o maior deles. Pra piorar começou a chover torrencialmente enquanto escurecia, com raios que pareciam cair a apenas 2 metros do carro, a esta altura já completamente encharcado pela água que caia das fitas do rack.
De repente o motorista pára o carro e nos avisa: el rio. Olhamos um para o outro sem saber o que pensar ou dizer. Será que conseguiríamos atravessar o rio? Será que passaríamos a noite ali no meio daquela estrada de barro, molhados e famintos?
Foi então que Carlos entrou de volta no carro e "El Capitán" lhe perguntou: E ai Carlos? A resposta não poderia ser mais propicia para a ocasião: Bamos, em nome de Jesus, sentenciou o trêmulo fiel com suas sábia palavras.
E não poderia ter sido diferente, mergulhamos no rio com seu carrinho 93 e logo os faróis do carro foram cobertos pela água, fazendo com que não enxergássemos um palmo à nossa frente, durante os cerca de 50 metros que nos separavam da outra margem.
Foram com certeza os momentos mais tensos e adrenalizantes de toda a viagem, por muito pouco o carro não saiu do rio, quase ficamos ali até o dia seguinte à mercê dos crocodilos e demais animais selvagens. A única coisa que ouvíamos no interior do veiculo eram preces e rezas para que Deus nos iluminasse e levasse o carro até a outra margem. E temos certeza que Ele nos ouviu, é a única explicação encontrada para termos saído dali.
A partir daí foi só relaxar e acelerar rumo à fronteira, onde chegamos cerca de 5 minutos antes dela fechar. Dessa vez foi por pouco! Obrigado Senhor!!!
De volta a Tamarindo ainda surfamos excelentes ondas na Playa Negra e na boca do rio em Avellanas, além de mais alguns finais de tarde alucinantes. Compramos uns regalos para a família, mandamos mais uns casados para saciar o apetite e ainda pegamos mais umas boas ondas em Marbella, pico localizado a cerca de 1 hora ao sul da Negra.
Saciados, cansados, bronzeados e muito, mas muito felizes, arrumamos as malas e partimos para San Jose, onde passamos nossa última noite no país da Pura Vida antes de retornar ao Brasil.
Foram 19 dias de muitas aventuras, amizade, companheirismo, sol, visuais paradisíacos, boa comida e tudo de bom que a vida pode oferecer para pessoas simples e normais que vivem em busca de realizar seu sonho de surfar ondas perfeitas.
Sentimos muitas saudades dos amigos e da família que não puderam estar conosco nestes momentos únicos, e fica aqui nosso convite para que nos acompanhem nas próximas edições da Clinica Internacional da Escola de Surf da Riviera.
Um grande abraço, boas ondas e Pura Vida!!!
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